O alcance dos caminhos
27.12.10
Vou até ali, vou à vontade, é a minha praia. Não me atrapalho e de repente, há uma reacção que não é em nada parecida com a tua. Porque - grande parva, eu - as pessoas não são iguais e não agem da mesma forma.
E é nesta altura que relembro que só procuro o mesmo que tive. É um dia, dois no máximo. São as hormonas ao estalo e eu a furar o tecto de ansiedade. Diparo em todas as direcções e espero um sorriso e um abraço como os teus. Mesmo que depois de uma birra, uma discussão.
Desta vez faço melhor, estou cada vez menos cuidadosa. Escolhi - ou escolheram-me, é um facto - dois caminhos. Coisas inocentes, lights, chitty chat mais que outra coisa. E eu vou por ali fora. Contente, que te ultrapassei, que já nem penso muito em ti, que estás longe e o posso dizer com segurança... um dia destes.
Mas são duas metades de ti. Ou nem isso, é pior: uma metade de ti e um oposto. E eu hesitante entre uma - a que és tu, e na verdade nada recomendável nas parecenças, que só brinca comigo, mesmo quando sou uma besta; e hoje dei-lhe um chuto. Depois a metade que nada tem a ver contigo, que eu gostava que me levasse para mais longe de ti, e que é uma brasa, que me tresanda a traumas, defesas e ataques por causa dessas feridas, e mesmo assim eu podia ser tão feliz nem que por uns dias. Até já lhe descobri um ponto fraco... que era o teu. De fraco tem pouco e já me fez perder a cabeça outra vez.
E em dias como hoje, dou comigo à tua procura em todo o lado. Sem caminho nenhum para seguir, para me distrair que seja, só te procuro. Voltas e mais voltas que não dão em nada porque tu não estás e eu também não saberia que fazer agora se aparecesses. Mas procuro-te. Desoriento-me e só te procuro, porque só assim poderia tomar o meu rumo. Que - só nestes dias, espero - és tu.
O alcance da possessividade
7.12.10
Qual leoa, marco um alvo. Farejo-lhe o passos, topo-lhe os gostos, adivinho-lhe as curvas e apanho-o sem que espere. Impressiono. Sei fazer isso lindamente. E gosto. E gosta. Faz parte do meu show.
Fico doente se na minha caça, se atravessa a mais mansa criatura. É irracional e não me importa que o seja. É assim, e não é de outra maneira.
Podem acontecer duas coisas: ou me desinteresso. Mas isso só acontece, se a coisa não estiver já a meio caminho. Ou me enfureço, deito as garras de fora e deixo-a desfigurada. Pela calada, puxo-a do caminho e desfaço-a. Volto ao meu caminho.
Para que se metem estas gajas? Por um bocadinho de atenção. Sem jogo, sem nada. Perco a cabeça, vou de cabeça, amigas ou não. Sim, amigas ou não. Perco a cabeça.
O alcance de uma ervilha
6.12.10
o alcance da outra
28.11.10
É infinito? Ou apenas patético, na sua tentativa de estabelecer posições há muito perdidas? Será que ela não sabe (ou não quer saber) o êxtase que te dei tantas vezes, a cumplicidade que temos, o teu olhar que diz tudo e me despe, a reacção da pele do teu pescoço que se arrepia com o toque, com a respiração, até com a intenção? Sabe.
o alcance do que não se adivinha
E agora? Como se escreve sobre aquilo que não se sabe? Que não se entende? Que só se sente e de que se sabe apenas que tem de estar certo porque o sinto certo? Porque a sinto certa? Sim, que ela encaixa em mim como um anel num dedo. Ela está certa em mim. Eu é que não estava em muita coisa.
o alcance dos pontos cardeais
27.11.10
Retornos à casa de partida. Círculos infinitos, viciosos. Montanhas russas. Tudo velho, gasto, déjá vu. Cansaço primordial como se carregasse o mundo às costas. Fome de amor. Fastio de migalhas dadas em rebates de consciência. Doenças, presenças a mais, ausências a menos. Farta, farta, farta. De mim própria e do que me tornei.
O alcance de procrastinar
22.11.10
Vou tratar do meu coração depois, ainda não sei o que fazer com a parte que era tua.
o alcance do que estava escrito
21.11.10
Sabes?… Amei primeiro a ideia de ti, antes de outra coisa qualquer, anos – sim, anos – antes de te conhecer. Não tinha provas da tua existência, mas não duvidei dela nem por um segundo: tinhas de existir, se eu já te amava. Amei-te pelo que sabia que serias, tudo o que é bom e mau em ti, e forte e fraco, e transparente e opaco, e se confirmou ao pormenor. Já nessa altura soube que ias ser um caso sério e que subiria aos céus contigo por um breve tempo, mas que depois desceria ao inferno de nunca te ter completamente.
O alcance do foda-se
19.11.10
Muito pior, é considerar-se esta pessoa amiga. E até é, mas nas horas vagas, entretem-se com isto. Há porcarias que se vão aprendendo com a idade. Uma, para mim é que tenho amigas - poucas - a cem por cento, outras menos. O resto não são amigas. As menos, são poucas, raras. Pessoas capazes da melhor companhia, consigo ver que davam o que fosse preciso por mim, mas depois, por uma questão de ego, me tiram o tapete - que é como quem diz o flirt - debaixo dos pés. Não são amigas, pois não. E o resto, onde se enfia? As gargalhadas, as privates, o entendidmento inegável?
Viu, sabe e cala. A seguir que faz? Atropela-me só para ter atenção. Não, não estou a falar de roubar nada, nem sequer é por aí. Antes fosse. Falo de iniciar conversas banais, de gostos comuns, e ter alguma atenção. Depois vem o espectáculo triste de anunciar "ele comigo, é impecável, é um querido" quando trocaram duas ou três impressões sobre vampiros, ou guitarradas. E aquele "ele comigo" a ecoar-me, mais tempo que o permitido por lei, na cabeça. É a irracionalidade (essa é outra) a que chego em início de flirt, qualquer coisa me põe as garras de fora. São intímos porque ouvem a mesma trampa? Não me lixem. Sim, ao contrário do Rui Veloso, eu acho que se ama alguém que não ouve a mesma canção. Se me faz rir e alcança o que é preciso, pode ouvir ferrinhos, quero lá saber.
E eu? Eu não desisto, mas ainda me chego um pouco para o lado. Com ela finjo que não percebo, e a ele quase lhe cuspo em cima. Ninguém pode perceber, e eu, cada vez mais fula, atiro tudo ao ar.
Foda-se... não consigo ficar indiferente a esta deslealdade. Não consigo, e é uma merda. O foda-se tem alcance, quando nunca o uso em público e de repente me sai, sentido: "foda-se..."
Etiquetas: se isto fosse o sapo hoje sentia-me Barbarella
o alcance dos turn offs
15.9.10
tods em pés de homem, escrever com erros ortográficos ou lols a meio de uma frase são turn offs completamente inultrapassáveis.
até porque estou apaixonada por ti, que não usas nada disto.
O alcance do incansável
14.9.10
O contrário é que sim. Desfilo com boas botas, cabelo decente e cara civilizada, e tu parado no trânsito, dentro de um escritório, vês-me e sentes-me a falta. E eu não sei, nem saberei.
Queria que me reconhecesses a gargalhada em vez da voz. Desta vez, eu atrás, tu na frente. E eu a rir. Num segundo, ouves, viras-te e confirmas-me. E eu penso "Banzai!", que em sonhos penso japonês (ou sic, já não sei). E tu com a cara de tacho com que tinha eu ficado antes: "ah és mesmo tu e eu não queria estar a olhar para ti". Só que olhar descaradamente nunca foi problema para ti. A gargalhada, essa é que queria que me ouvisses. E se eu tenho rido! Não, não ía dizer "mas eu não rio...", que pensavas? Por favor, não afectas isso tudo. Já não. E eu não troco rir por ti. Já não.
Mas continuo a querer que me vejas e tenhas saudades. Mesmo que eu nunca o saiba.
O alcance da criação
10.9.10
Escrevi tanto durante tanto tempo, canalizei tanta coisa que hoje me sinto esgotada, paralisada. Ainda escrevo, muito pouco, mas nada a ver com a explosão orgásmica de outrora. Não tenho saudades desse tempo, e os personagens ainda lá estão, só que já não os sinto da mesma forma. Falam comigo e eu rio-me deles e já acho tudo banal (Gostas de sexo? Nada de especial! Fodes mulheres? Nada de especial! Fodes criancinhas ou animais? Nada de especial! Fodes cadáveres? Nada de especial! Queres atirar-te do prédio mais alto que encontrares porque achas que sabes voar? Nada de especial!)
Terei perdido o medo (de foder, de morrer)? Seria esse o meu maior (e único) impulso para a escrita? De onde me vinha tamanha ânsia, tamanho frenesim? Os personagens acotovelam-se e sussurram e olham tristemente para aquela que já não é a mesma de antes. Não sei se um dia voltarei a esse complexo esplendor, tornei-me amorfa (insensível) à dimensão humana de tudo aquilo que criei.
o alcance da cegueira
6.9.10
O alcance das Biancas
Já vimos isto, não foi? Porventura, já o vivemos. Umas já ajudámos, outras já fomos ajudadas, outras ainda, nada, mas vivemo-lo. Se é bom? Não é o que nos ensinam, isso sei. Mas o que nos ensinam é uma demo do que vem a ser a vida, portanto esta é só mais uma. Não é o ideal, mas o ideal vai-se fazendo. Teorias são para os inertes, que se deixam ficar a ver passar o mundo.
O que interessa, o que me ficou, foi que na caixa de comentários fui a única a chegar onde o post chegava - o alcance, lá está -, tudo o resto de desfazia em tretas convencionais "vai desculpar-me, mas amor não é isso", "traição é traição" e outras cordelices saídas das Biancas e Arlequins. Não era de amor que se falava. Ou era, mas por quem o vive e sabe o que pode acontecer. Ou então, refugiados nas Samantas, não o sentem, nem vêem. Comentei, fui atendida "nós cá sabemos, não é?". E é.
E outra vez, a frase de uma amiga de muito tempo, aos vinte anos a concluir: "Abóbora, - ora abóbora, que me ía saindo o meu nome - as bimbas é que são felizes".
O alcance dos erros
26.8.10
Sei bem que os erros se pagam e que mais cedo ou mais tarde temos que enfrentar as decisões e opções que tomámos e mais do que tudo responsabilizarmo-nos por tudo o que daí advém. E sabermos assumir sem culpabilização para seguirmos em frente sem ficarmos presos a um passado que não passa duma pedra cujo peso depende apenas do quanto nos fica colado no presente.
Nem sei porque decidi aceitar os teus pedidos constantes para que iniciássemos uma "relação". O sexo era bom, infelizmente muitos dos meus erros começaram por aí porque confundo muito as coisas. Achei que o sexo era mais do que suficiente para cobrir todas as outras dimensões que te faltavam. E talvez tivesse ficado lisonjeada pela atenção tanta que me dispensavas e achei que sim, que talvez fosse uma boa ideia deixarmos definitivamente de lado os nossos encontros sexuais ilícitos para adquirirmos essa tal estabilidade que a palavra "relação" prometia.
Em boa verdade não era só o sexo, tu eras uma pessoa extraordinariamente inteligente e eu adoro bons intelectos. Invariavelmente as nossas conversas enveredavam por caminhos tórridos que nos deixavam à beira do orgasmo, que se cumpria sempre com uma eficácia brutal.
Os problemas vieram depois porque a nossa "relação" implicou que eu abdicasse do meu espaço, numa invasão de "tralha" para a qual não estava preparada e que me deixou em estado de choque. Admitiste finalmente querer partilhar muito mais do que um intelecto fortemente erótico e o suor do teu tesão. E depois querias saber o que eu achava, o que eu pensava, o que faria eu no teu lugar. Querias que assumisse a tua "tralha", que me co-responsabilizasse por ela, que te ajudasse a "arrumar a casa"! E eu que não sou tua mãe, nem tua irmã, nem sequer muito tua amiga entrei em parafuso e acho que sim, que te dei um desgosto daqueles de partir o coração em mil bocadinhos sem saber se haverá reparação possível para tamanho estrago. E durante um tempo ainda aguentei as tuas recriminações porque carregava um sentimento de culpa por te ter "enganado" ao aceitar-te da forma como o fiz.
Pedi-te mil vezes desculpa, nunca me perdoaste (provavelmente com razão). Até que um dia peguei nesse sentimento feito pedra e atirei o mais longe possível, para bem longe daquilo que hoje sou e tenho. Risquei-te como mais um dos meus erros e se agora te voltei a mencionar é apenas como alívio temporário de um certo incómodo que de quando em vez me assola, como um caroço de cereja regurgitado contra uma parede ou como uma espinha que atravessa o goto para ser cuspida contra uma folha de papel em branco. Caía bem dizer que gostava de saber se estás bem, mas na realidade estou-me nas tintas porque espero sinceramente não voltar a ver-te nunca mais.
Onde andam os iguais ?
22.8.10
Parece-me a mim que metade dos gajos andam à procura de uma mãe, e a outra metade à procura de quem controlar facilmente.
O que há de errado em se ter ao lado alguém que seja um igual, em vez de alguém que se considera de uma forma ou de outra superior ou inferior ?
Férias
9.8.10
Chega-me um dia o gajo a casa (à minha) e diz que vai sair de casa (da dele, claro). Que até já andou a ver anúncios na net, gosta do bairro onde mora, que fica a uns dez minutos do gabinete dele.
Os devaneios assaltam-me logo toda (opá, que querem ? eu prefiro continuar a sonhar e depois dar uns enormes trambolhões do que simplesmente apagar a esperança da minha vida). Saltamos os dois para o computador e vemos casa atrás de casa.
Afinal, já vai para dois anos que estamos "juntos" (mmm.... este post está cheio de aspas por todos os lados, enfim). Das 6 da tarde às 9 da noite, durante a semana, é certinho. De vez em quando, ele simplesmente não vai ao gabinete (privilégios das profissões ditas liberais) e eu fico "doente" e não vou trabalhar. São dias que passamos na cama, a rir e a conversar, a fazer amor e planos para o futuro. Escolhemos mobílias, falamos sobre os filhos que ainda vamos ter juntos, inventamos nomes para os dois gatos que hão-de dormir na nossa cama.
Às 7 da tarde (em ponto), a legítima manda a habitual mensagem a perguntar a que horas chega, para ter o jantar na mesa. A cada dia, ele responde "lá pelas 9 e tal". Eu sei que às 8:50 ele vai começar a vestir-se, nem preciso de lhe adivinhar o suspiro. Também sei que dez minutos depois de me ter deixado, já me enterrou naquela parte do subconsciente que ela não consegue ler. Mais ainda, sei que depois do jantar ele terá "trabalho a fazer no computador" enquanto ela fica na sala a ver as telenovelas umas atrás das outras. O trabalho... sou eu, no chat, na webcam, é claro.
Dois dias mais tarde, o desentusiasmo. Eu tinha continuado à procura da tal casa. Um amigo dispunha até de dois espaços para alugar, e eu pergunto-lhe se quer marcar para "irmos" ver (sim, já reparei, este post está cheio de aspas).
A primeira resposta foi o olhar distante. A segunda, as palavras que lhe saem da boca "não vale a pena apressar nada, ainda é só algo em que ando a pensar".
Foi para casa mais cedo, claro. Nesse dia não houve "serão". Para quê ? Por mim, nada mais havia para dizer ou fazer.
Ele volta, eu sei. Volta quando precisar de falar novamente, afinal eu sou a sua "melhor amiga", a "pessoa que melhor o conhece no mundo" (pois, tantas tantas aspas). Também sei que o hei-de aceitar de volta, uma e outra vez. Até me fartar de vez. Porque hei-de lá chegar, um dia.
E nesse dia, quando eu deixar de lhe abrir a porta, só porque já não me apetece nem quero saber, há-de ele acordar. É sempre assim, acordam sempre tarde demais. Mas agora que sei exactamente o que isto é, descobri que jamais viveremos juntos nem concretizaremos sonho nenhum.
Porque EU não quero viver com uma pessoa assim.
E aturar as ciumeiras ?
22.7.10
Não compreendo. Não acredito. Mas faço de conta que sim, e depois dos desabafos o sexo é óptimo, há que admiti-lo.
Um último cigarro partilhado e lá vai ele, ao encontro do resto da vida de que não faço nem quero fazer parte. Aproveito para comer e ligo o portátil, faço a ronda habitual pelos mails, facebook, twitter, blogs, respondo a um comentário aqui, fico a pensar em posts que tenho que escrever mas estão ainda a amadurecer cá dentro.
Meio a devanear sobre um texto quase já todo escrito na minha cabeça, poiso o portátil ao lado e acendo a televisão. Apanho a série "Ossos", yay, é uma das minhas favoritas !
Quando dou por mim, são oito e meia da manhã e adormeci tal como estava. No portátil ainda ligado, tenho dez chamadas por atender no skype e quatro mensagens muito pouco simpáticas. No telemóvel, outras três chamadas não atendidas e um sms. Aparentemente "estive no skype". Com outra pessoa, claro. E não lhe atendi chamadas nem liguei nenhuma, o que aparentemente resultou num enorme ataque de paranóia.
Ainda aqui há dias, só mesmo para picar, lhe perguntei se ele teria ideia do que andaria a legítima a fazer naquele preciso momento. A resposta, foi um encolher de ombros indiferente e algo como 'não quero nem saber'.
Vou acordando, apagando tudo clique a clique e fico a matutar no drama todo que se desenrolou enquanto eu dormia calmamente. Envio de volta um sms que diz apenas "huh?". Não tenho bem a certeza se quero continuar a ser actriz neste filme. Se a mim não me pesa a consciência, não tenho que levar com os pesos das dos outros, certo? Engraçado isto, de não conseguirmos fugir à nossa subjectividade e corrermos a julgar a Outra pela nossa própria bitola de adúltero...
Visto cá de cima
21.7.10
No meu caso, contudo, eu sou realmente A Outra. Sou o serão no escritório, o projecto que tem que ser entregue dentro do prazo, a súbita reunião no estrangeiro que calhou em tão má hora.
Mas fiquem descansadas, não vim com o objectivo de vos contar nenhuma história de fazer chorar as pedras da calçada. Achei apenas que seria útil poder proporcionar uma perspectiva diferente. Sei lá, pode até ser que vocês desse lado, as legítimas esposas, começem a olhar-nos de outra forma e se apercebam de quanto acabamos por vos facilitar a vida :)
Ou seja, vai ser assim: estórias e historietas, umas engraçadas, outras nem tanto. Todas baseadas em factos reais e vividas por quem tem, pelos vistos, vocação inata para se meter com esse gajo com quem são casadas, com quem vivem, para quem vivem, seja o que for.
Volto em breve com a primeira. Até lá... descontraiam e aproveitem as férias tanto quanto possível, sim ?
o alcance do ego
13.7.10
és assim também, virado para o teu ego como um espelho gigante onde reflectes os outros. e talvez não fosse tão devastador senão tivesses antes de ti uma série deles que não foram assim, senão tivesses do lado oposto do campo um que não é assim. nesse caso, mesmo ele sendo assim, mais feio, menos interessante, menos excitante e até - atrevo-me a dizer - pior na cama, tu perdes e ele ganha. temos pena.
o alcance do inalcançável
8.7.10
como era possível ter-me esquecido deste sentimento de insuficiência que acompanha estas coisas? do coração a pesar quilos do não me liga não gosta de mim não quer saber no matter what.
não há maneira é isso fofo. não há maneira de fugir à infelicidade.
o alcance dos códigos
22.6.10
não temos culpa de ser pessoas que não gostamos de falar com as palavras todas.
receber uma mensagem que diz só tá boa? e ter de assumir que lá está escrito o que fizeste hoje? ouvir foi bom falar consigo este bocadinho e imaginar estou cheio de saudades tuas porque não te vejo desde domingo e ainda me faltam dois dias inteiros para te voltar a ver. ouvir ah não sei bem quando volto e pensar que o que estava por trás era embora possa ficar fora duas semanas vou ficar só uma. ouvir gosto de estar consigo e pensar que era mesmo um disfarçado amo-te.
nos outros dias todos penso que afinal o problema é eu ver códigos numa linguagem que é apenas linear e que diz aquilo que as palavras dizem.
o alcance da simplicidade
16.6.10

Olha para a fotografia acima. É apenas um fruto mas sabes tu a quantidade de milhões de anos que foram necessários para chegar a esta forma? Imaginas quantos ficaram pelo caminho, por não possuirem um sistema de transporte de alimentos suficientemente perfeito, por não terem uma forma que se adaptasse com exatidão à sua função de fruto?
A nós não nos é exigido tanto, é tudo muito mais simples. Se errarmos, a grande maioria das vezes, poderemos corrigir esse erro. Se não conseguirmos poderemos sempre seguir caminho sem cometer o mesmo erro porque é para isso que servem os erros. Para ensinar.
A nós não nos é pedido que sejamos perfeitos. Apenas que arrisquemos. Se nem isso queres fazer, pois paciência. Há caminho à nossa frente para seguir. Vários aliás. Aprendamos com o nosso erro. Eu a não insistir no que está estragado. Tu a...qualquer coisa que não me interessa minimamente.
o alcance dos sentimentos
8.6.10
mas
O maior inimigo do amor é a vida. São os dias. As noites. Os amigos. Os filhos. As casas. Os carros. O trânsito. Os dias de sol. A chuva. Os dias bons. A doença. A tristeza. O dinheiro.
O amor já tem tudo contra ele à partida. Portanto se a amizade tiver apenas um inimigo, terá grandes hipóteses de sobreviver.
o alcance da tranquilidade
7.6.10
O alcance das cerejas
2.6.10
Tinha chegado há escassas horas atrás, cheio de pressa e já levando um atraso significativo para mais uma reunião com aqueles clientes que nunca estão certos que o negócio será o melhor das suas vidas. Entre ensaios de argumentos prontos a esgrimir deparou-se com a mulher acabada de sair do banho, ainda molhada e quente, a comer cerejas na cozinha. Não soube bem porquê, já não sentia aquele formigueiro desde que ela lhe tinha dito que estava tudo acabado entre eles, que estava farta das suas longas ausências. Distraidamente serviu-se de um copo de água gelada, porque estava mesmo cheio de pressa e precisava de manter a lucidez para a reunião que se seguia. Balbuciou mais um "hoje venho tarde..." enquanto ela comia as cerejas, saboreando-as, chupando-as, deixando escorrer-lhes o sumo por entre os dentes, sorvendo, absorvendo e esperando.
Quando acabou de beber a água, viu-a praticamente nua à sua frente, selvagem de repente, ela que sempre tinha primado por uma imagem de discrição acima de tudo e todos. Gritou-lhe, berrou, chorou, voltou à carga com todos os argumentos já mais que batidos entre ambos. Tinha a certeza que ele tinha uma amante, outra mulher que lhe satisfazia os caprichos e desejos. E estava de farta de esperar por ele, que um dia se dignasse a olhar para ela como fizera no início. Cheia de cerejas e farta de desespero, agarrou em tudo o que viu à frente e atirou... contra as paredes, contra o chão, contra ele.
Aproveitou um momento de cansaço para se aproximar dela e agarrá-la pela cintura. Sem palavras, esgotadas, beijou-a com desejo e sentiu o calor à mistura com o aroma intenso das cerejas. Nunca na vida se lembrava que ela lhe tivesse cheirado assim e quando mais inalava mais perdido se sentia. Desfez-se das roupas que subitamente o aprisionavam causando-lhe uma falta de ar inesperada. Ela já estava à sua mercê, percebeu tão bem que ela precisava dum orgasmo tanto ou mais do que ele. De joelhos ela, submissa, e ele penetrando-a por trás, sentido um calor intenso subindo-lhe do sexo até aos olhos, à boca.
Molhada, escorria, puro sumo de cereja à mistura com algo indescritível de bom, de inebriante, de puro e total descontrolo. Não queria vir-se nela, não queria ter que provar aquilo que era seu, preservando assim o sabor que dela escorria. Quando se sentiu, virou-se e aproveitou para regar as paredes com a força do seu jacto, uivando como se fosse a primeira vez que assim se esvaziava.
Ela continuava de joelhos ofegante, à espera da sua vez e ele não se fez rogado. Mantendo-a na mesma posição baixou-se o suficiente para poder finalmente saboreá-la, sentindo de novo o tesão a formar-se à medida que introduzia a língua no seu sexo molhado, quente, cheio de cerejas e mel. Sentiu-a fraquejar, gemendo, aproximando-se dele para que lhe pudesse tocar mais, dentro, fundo. Depois de saciado introduziu-lhe um dedo, depois outro, e sentiu o sexo dela a latejar por dentro. De olhos fechados e deixando-se guiar pelo instinto aplicou-se nas massagens que lhe fazia sentindo o fluxo aumentar por entre os seus dedos. De repente ouviu algo parecido com o estalar de um jarro de água e sentiu o esguicho molhando-lhe completamente a mão, deixando-o com um tremendo tesão.
Mas já era tarde e tinha que sair, levantou-se, vestiu-se e repetiu "hoje venho tarde..."
(Ela sentiu um ligeiro soluço a formar-se nas entranhas. Deixou-o subir e reparou que afinal era um caroço de cereja. Mais um, e outro. Cuspiu-os enojada. Mas vinham mais a caminho, prenúncio duma má disposição inadiável. Não devia ter comido tantas cerejas pensou, à medida que com o jacto que entretanto se formara varria as paredes que antes outros fluidos haviam regado...)
A inocência dos silenciosos
1.6.10
O alcance dos perfis
26.5.10
O alcance dos escadotes
Não temos que nos fazer melhoríssimas da silva porque sabemos que o somos! Aqui somos! E lá também, mas lá é diferente por causa das "virtudes" e "qualidades" que muita educação restritiva nos impôs ao longo de toda a nossa existência. Fica feio evidenciarmo-nos porque temos que pensar nos outros e a humildade e a submissão e porque há outros maiores e melhores, de certeza que só pode haver dizem-nos e diz-nos o nosso egozito que começou a apanhar desde o dia em que nasceu.
Mas isso era antes dos escadotes porque agora podemos subir e vir para aqui e aqui não temos que fingir nem temos que concordar com os modos do mundo de lá. Aqui somos todas irmãs, mulheres, melhores, maiores! E entre nós temos esta união quase ancestral que nos fortalece e nos impele a subir aos escadotes que umas e outras vão deixando pelo caminho… por isso e por muitas outras coisas querida Tricia te digo que o nosso caminho só pode ser ascendente! Estes escadotes não têm modos de se descerem! Encontramo-nos lá em cima? :)
o alcance do acaso
24.5.10
O alcance do protagonismo
22.5.10
O alcance dos mantras
19.5.10
o alcance da correria
o alcance da esquizofrenia direccionada
A sanidade mental dele é posta à prova de muitas formas. Se de manhã acorda com um sms digno de amante saudosa, à tarde é um mail completamente contraditório e à noite é um mms convidativo com a foto da depilação da zona genital. E ele, paciente, atura, na esperança que um dia a ex-mulher tenha um pingo de vergonha na cara, engate o primeiro e siga a sua vida.
o alcance da ralé
18.5.10
O alcance da desfaçatez
22.3.10
Não queria parar ali, não tinha tempo mas alguém o viu e soltou uma exclamação. "Está ali um padre! Vamos chamar o padre!" E várias pessoas se viraram e começaram a avançar na sua direcção empurrando-o naquilo que parecia ser um monte de metal à mistura com carne humana. Era um acidente, uma ocorrência estúpida e trágica daquelas que não lembrariam ao Diabo. Um rapaz tinha tirado o capacete da mota no sinal, talvez devido ao calor que se fazia sentir, e estava distraído quando a ambulância em marcha de urgência avançou. O sinal passou a verde e de repente o rapaz desapareceu, por baixo da mota, por baixo dum autocarro que entretanto tinha embatido de frente na ambulância. Havia um cheiro forte a sangue, mas parecia que estavam todos vivos, isto é, todos vivos menos o rapaz do amalgamado de metal e sangue. Foi por ele que foram chamar o padre, para que ao menos lhe administrasse os últimos ritos, a extrema unção, antes que soltasse o derradeiro suspiro.
O padre hesitou, não estava habituado a lidar com casos tão extremos. Uma coisa era ser chamado para ir a casa, sentar-se à beira duma cama onde há muito jazia o corpo de algum idoso prestes a entregar a alma ao Criador e ajudá-lo na transição duma forma pacífica mas firme, arrancando uma confissão ali mesmo ao virar da esquina que separa a vida da morte. Outra coisa era ser apanhado assim sem estar preparado, e para mais não se sabendo se a vítima ainda estaria consciente, condição indispensável para que o padre se predispusesse a administrar a dita unção. Também é verdade que não trazia consigo o óleo, mas esse era mero acessório, o que interessava era o canal, a comunicação, e a sua abertura de espírito pronta a acolher uma alma à beira do tormento final.
Acercou-se do rapaz que ainda estava vivo e perguntou-lhe se estava pronto para confessar todos os seus pecados e limpar assim a sua alma antes que fosse demasiado tarde. Olhou e sentiu, sentiu uma pontada grande, um formigueiro, uma angústia, um sufoco repentino. O rapaz tinha-o reconhecido! Mesmo envolto em metal, conspurcado de carne viva e sangue, mesmo a pontos de sentir o último estertor, as memórias vinham-lhe em bocados, à mistura com as lágrimas de sangue que corriam agora mais intensas.
Lembrava-se do primeiro dia, do primeiro bolinho, da primeira festinha, a primeira carícia, o primeiro beijo, a primeira vez que aquela mão lhe tinha subido pelos calções adentro, tocando em partes que eram só dele, que já nem as mãos da sua mãe conheciam.
Lembrava-se de se ter sentido orgulhoso, de se sentir o escolhido, o preferido, mais importante que todos os outros meninos. Até que um dia o orgulho se transformou em ódio, à medida que o padre o queria mais e mais, mantinha-o na sacristia tempos infindos, e a mãe orgulhosa do seu menino tão aplicado e tão beato. E o padre sempre querendo-o mais e mais, agora já não era só a mão, agora despia-se e obrigava-o a ajoelhar-se à sua frente, para que o seu sexo duro e quente o pudesse penetrar, uma vez, duas vezes, cinco vezes, trinta, quarenta vezes, tantas que havia dias que o miúdo já nem aguentava e desfalecia-lhe em cima do pénis sempre duro, sempre insatisfeito, sempre querendo mais daquele pequeno, ingénuo, frágil corpo de pequena ave sem asas nem liberdade.
Lembrava-se da vergonha, do nojo, de se sentir porco em permanência, desejando que o padre morresse todos os dias, de uma morte bem lenta e agonizante. Que todas as suas dores se transferissem para o Diabo que agora sabia ter conhecido, escondido sob o mais perfeito disfarce.
Lembrava-se de um dia ter tentado contar à mãe, ao pai e de lhe terem dito que inventava, que caluniava, que imaginação meu Deus!! Então e logo o senhor padre, que era tão bonzinho para as crianças, tão generoso, tão humilde!! Que ele era um ingrato, que se houvera alguém era ele que estava possuído pelo Diabo! A mãe então demorou muito até voltar a falar-lhe olhos nos olhos e até à sua morte nunca acreditou naquela história mirabolante que o filho que contara!
Agora ali estava ele de novo, o padre, querendo administrar-lhe os últimos ritos e pedindo-lhe que se arrependesse de todos os seus pecados! E reconhecendo-o! E ainda sentindo a chispa da luxúria, queimando-o mais do que os bocados de metal ardente enterrados na sua pele. "Não quero..." murmurou ele, "NÃO!" Mas os outros, aqueles que assistiam aos seus últimos minutos reprovando-lhe aquela negação do divino, insistiam com o padre para que continuasse, que lhe administrasse os ritos na mesma, que podia ser que Deus se compadecesse da sua alma, mesmo sem o devido acto de contrição.
E o padre feliz por prosseguir, acariciando-o de novo, como dantes. Os dedos escorregando-lhe pelos olhos, pelo nariz, pela boca, fazendo sinais de cruz, várias vezes, muitas vezes, muitas mais do que as necessárias, vivendo, bebendo ainda o pouco que ainda emanava daquele corpo tão jovem, tão vigoroso, tão quente. Comendo-o, bebendo-o, sugando-o tal como dantes, pior do que antes! E ali ficou o padre, acariciando-o até ao fim. E depois todos se compadeceram com a ternura do padre, tão bonzinho, tão generoso, tão humilde. E todos se foram a pensar que seriam precisos muitos mais padres assim no mundo para nos salvar a todos do Fogo Eterno do Inferno!
(E que venham eles, que nos comam as crianças, que lhes partam as asas antes mesmo de saberem voar e um dia saberemos porque todos juntos permitimos e causámos que seres execráveis, em nome dum Deus que eles próprios inventaram, invadissem o espaço, o corpo, a alma dos que não podem, nem sabem defender-se...)
O alcance do calendário perpétuo
8.2.10
No dia em que parou, um dia triste de Inverno, não demos importância ao caso. Achámos que tínhamos sido enganados por um marketing persuasivo, mais tu do que eu. Eu apaixonei-me pela longevidade da pequena geringonça, imaginando-o feito de milhares de minúsculas micro-peças onde tudo parecia encaixar-se na perfeição. Igual todos os dias, indiferente à passagem inexorável do tempo! Até ao dia em que deixou de funcionar.
A partir de aí, mesmo que me esforce por não relacionar os eventos, não posso deixar de pensar que nada do que venha de nós é perpetuo, seja objecto ou sentimento. O tempo que decorria com uma precisão até então matemática virou-se do avesso, impossível de controlar. Passavam minutos que pareciam horas, até dias! E depois havia dias que desapareciam como meros segundos. Os interesses ficaram todos baralhados, imprecisos lá está, pela falta da precisão do rotor de quartzo que deixara de funcionar.
Eu que primava por uma pontualidade germânica deixei de saber a quantas andava. Chegava atrasada a todo o lado, correndo atrás de um horário rigoroso que deixara de conseguir cumprir. Cortava nas horas de sono para conseguir compensar, mas isso só fazia pior, porque no dia seguinte demorava ainda mais tempo a terminar as tarefas diárias do que antes. Até que um dia não aguentei mais e deixei de correr atrás do tempo (de ti) e quase que me despedi da vida (de mim). Apaguei uns dias da minha existência, podem ter sido uns meses, ou até uns anos, não sei, já não possuo o relógio de calendário perpétuo para me ajudar a cortar o tempo, em unidades perfeitas e redondas produzidas pelos seus milhares de micro-peças.
Hoje os meus dias são todos irregulares, uns enormes, outros minúsculos, a vida anda-me aos zigue-zagues em vez de seguir o curso regular de há uns anos atrás. Assumo que ainda sinto um certo ressentimento pelo velho relógio que deixou de funcionar. Pode ter sido um presságio, uma mera coincidência entre tantas outras, mas para mim esse momento foi o princípio do (nosso) fim. E é uma grandessíssima pena, porque eu gostava tanto daquele relógio!
