O alcance dos mantras

19.5.10

Há uns dias dei comigo a pensar exactamente o que está no post "o alcance da correria". Foi depois de ter levado uma chapadona psicológica das grandes, quando ouvi na voz infantil da verdade "estavas a rir tanto e nunca te vejo assim". Oh, que me rio muito, é certo. Mas talvez não me ria às gargalhadas o suficiente, ou com as pessoas que me querem ver rir às gargalhadas felizes, as pessoas a quem faz mais falta que me ria às gargalhadas felizes. Assim, por nada ou coisas parvas, mas confesso que a fazer o jantar ou a pendurar roupa, enquanto faço contas mentais a orçamentos familiares e mais a fruta que está verde ou tem mosquitos, não consigo encontrar motivos para rir. Gosto de arranjar morangos em silêncio, é certo, mas não me rio, sorrio só. E o pior é que não não-me-rio não é por infelicidade, que sou muito feliz, muito obrigada, é que falta tempo: mesmo quando se é feliz, falta tempo para se ter tempo de estar feliz e alegre.

E nesse dia decidi que se acho que se tem que se ser feliz nem que seja à biqueirada, também temos que estar felizes nem que seja à biqueirada a nós mesmos, aos nossos problemas e às nossas chatices. Não é cagar no assunto que as contas não se pagam sozinhas, o tempo não estica e as maçadas se vão embora e não é relativizar que com o mal dos outros posso eu bem e pimenta no cu dos outros e essas merdas todas e quando uma pessoa tem chatices, até podem ser merdosas se comparadas mas temos pena, são as aqui deste lado, as nossas, essas é que aborrecem e moem. Cada qual com as suas e estamos cá para apoiar as dos outros, pois está claro, mas já agora que apoiemos também as nossas, dá algum jeito.

Decidi que temos que estar felizes pelo menos uma vez por dia, ou dez ou assim. Não interessa a que horas ou porque razão, que o estar feliz e alegre é contagioso, se um dia for uma vez, da próxima é mais fácil serem duas e logo se chegará às alturas certas. Por agora e como primeiro passo, é estar-se feliz nem que seja a ouvir o genérico da TSF no meio do trânsito. É como aquelas pessoas que não gostam muito de água mas têm que a beber: metem um aviso no computador e tudo. De tanto em tanto tempo, beber um gole ou um copo. É isso, é beber água mesmo a horas incertas, que seja.

E é o mantra do "foda-se agora estica a boca para os lados, vá lá, não custa nada e ri-te, minha parva".

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