O alcance da criação

10.9.10

Não sei o que se passa comigo, nem eles, os personagens que outrora tanto me atemorizaram ao ponto de me fazerem passar noites a fio a escrever as suas histórias sórdidas e por vezes mórbidas. Ontem ainda vivia aterrorizada pelas vozes que ouvia e que me enchiam a cabeça até me deixarem disfuncional para todas as rotinas diárias excepto essa, de lhes escrever as angústias e os terrores, os desejos e os amores.

Escrevi tanto durante tanto tempo, canalizei tanta coisa que hoje me sinto esgotada, paralisada. Ainda escrevo, muito pouco, mas nada a ver com a explosão orgásmica de outrora. Não tenho saudades desse tempo, e os personagens ainda lá estão, só que já não os sinto da mesma forma. Falam comigo e eu rio-me deles e já acho tudo banal (Gostas de sexo? Nada de especial! Fodes mulheres? Nada de especial! Fodes criancinhas ou animais? Nada de especial! Fodes cadáveres? Nada de especial! Queres atirar-te do prédio mais alto que encontrares porque achas que sabes voar? Nada de especial!)

Terei perdido o medo (de foder, de morrer)? Seria esse o meu maior (e único) impulso para a escrita? De onde me vinha tamanha ânsia, tamanho frenesim? Os personagens acotovelam-se e sussurram e olham tristemente para aquela que já não é a mesma de antes. Não sei se um dia voltarei a esse complexo esplendor, tornei-me amorfa (insensível) à dimensão humana de tudo aquilo que criei.

Comments

2 Responses to “O alcance da criação”
Post a Comment | Enviar feedback (Atom)

Tricia disse...

Será por estares feliz e descansadinha da vida?

11 de setembro de 2010 às 12:48
Sibila disse...

Pois! :P mas assim a modos que não dá muito jeito prá escrita!!

14 de setembro de 2010 às 18:10

Enviar um comentário