O alcance dos erros

26.8.10

(On why we should have stayed fuck buddies)

Sei bem que os erros se pagam e que mais cedo ou mais tarde temos que enfrentar as decisões e opções que tomámos e mais do que tudo responsabilizarmo-nos por tudo o que daí advém. E sabermos assumir sem culpabilização para seguirmos em frente sem ficarmos presos a um passado que não passa duma pedra cujo peso depende apenas do quanto nos fica colado no presente.

Nem sei porque decidi aceitar os teus pedidos constantes para que iniciássemos uma "relação". O sexo era bom, infelizmente muitos dos meus erros começaram por aí porque confundo muito as coisas. Achei que o sexo era mais do que suficiente para cobrir todas as outras dimensões que te faltavam. E talvez tivesse ficado lisonjeada pela atenção tanta que me dispensavas e achei que sim, que talvez fosse uma boa ideia deixarmos definitivamente de lado os nossos encontros sexuais ilícitos para adquirirmos essa tal estabilidade que a palavra "relação" prometia.

Em boa verdade não era só o sexo, tu eras uma pessoa extraordinariamente inteligente e eu adoro bons intelectos. Invariavelmente as nossas conversas enveredavam por caminhos tórridos que nos deixavam à beira do orgasmo, que se cumpria sempre com uma eficácia brutal.

Os problemas vieram depois porque a nossa "relação" implicou que eu abdicasse do meu espaço, numa invasão de "tralha" para a qual não estava preparada e que me deixou em estado de choque. Admitiste finalmente querer partilhar muito mais do que um intelecto fortemente erótico e o suor do teu tesão. E depois querias saber o que eu achava, o que eu pensava, o que faria eu no teu lugar. Querias que assumisse a tua "tralha", que me co-responsabilizasse por ela, que te ajudasse a "arrumar a casa"! E eu que não sou tua mãe, nem tua irmã, nem sequer muito tua amiga entrei em parafuso e acho que sim, que te dei um desgosto daqueles de partir o coração em mil bocadinhos sem saber se haverá reparação possível para tamanho estrago. E durante um tempo ainda aguentei as tuas recriminações porque carregava um sentimento de culpa por te ter "enganado" ao aceitar-te da forma como o fiz.

Pedi-te mil vezes desculpa, nunca me perdoaste (provavelmente com razão). Até que um dia peguei nesse sentimento feito pedra e atirei o mais longe possível, para bem longe daquilo que hoje sou e tenho. Risquei-te como mais um dos meus erros e se agora te voltei a mencionar é apenas como alívio temporário de um certo incómodo que de quando em vez me assola, como um caroço de cereja regurgitado contra uma parede ou como uma espinha que atravessa o goto para ser cuspida contra uma folha de papel em branco. Caía bem dizer que gostava de saber se estás bem, mas na realidade estou-me nas tintas porque espero sinceramente não voltar a ver-te nunca mais.

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