Relações-qualquer-coisa

27.7.09

ela descrevia-me a noite anterior, de sábado, pensara ir a um restaurante mas ao chegar à porta tinha visto o carro do querido dela ["estamos terminados"] e tinha mudado de ideias. "O meu querido".

Pensei muito nisso porque gostei da expressão mas não deixei de a achar estranha, o meu querido, não o meu namorado, marido, ex qualquer coisa.
Também eu tenho vários ex-qualquer-coisa. Qualquer coisa.
Das milhares de expressões que inventamos para não nos comprometermos com outra pessoa:
Uma tipa com quem ando a sair, é só o X dormimos juntos umas vezes, é a miúda que ele anda a comer, anda metida com o Y, andam enrolados, tiveram um caso, deram umas voltas.
Ganhamos aversão a palavras como namorado, achamos fabuloso quando alguém se casa "que coragem", como se fosse saltar de um avião sem para-quedas, que coragem, outras vezes só encolhemos os ombros porque "está-se mesmo a ver no que é que aquilo vai dar", como se a alternativa, saltitar de relações-qualquer-coisa fosse tão melhor.

Ao mesmo tempo que desvalorizamos tudo aos outros, enquanto estamos mesmo a ver no que é que aquilo vai dar, fazemos tudo para não ser aquelas pessoas que têm relações sérias, para não ter destroços se a coisa corre mal, para não ter restos de separações dramáticas com lágrimas dentro de nós que poderiam deixar marcas, para não cair numa rotina de casal que se senta a jantar sem palavras para dizer um ao outro, que se trai, que se maltrata um ao outro porque está farto e aborrecido, que se odeia silenciosamente, que se irrita com todos os pequenos defeitos do outro, que fantasia com terceiros.
Porque de facto, quando observadas de fora e de perto, todas as relações são más.

A pior parte de ser solteira é ter pavor de deixar de ser. Ou então, se calhar, é a melhor.

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