É tudo tão complicado

28.6.09

tão difícil, e eu a pensar que sabia o caminho mas mesmo assim liguei o GPS, só para o caso de não saber bem, de me poder enganar e afinal enganou-se o GPS, levou-me pelo caminho errado, fui parar no meio do mato e oiço saraivadas de tiros, de repente estou numa zona de guerra e nem artilhada fui, estou assim de chinelos e calções, o bikini por baixo (pensava eu que ía para a praia do costume). Baixo-me mas mesmo assim oiço tiros, oiço balas que passam a raspar a meros centímetros da minha cabeça, o som é um mero zunido metálico, estou no chão a comer pó e pedras, já nojenta de sujidade, cheia de lágrimas de medo que não choro para não me ouvirem e atirarem directamente para o sítio onde estou, atrás de um carro, deitada no chão de pó, com os ouvidos a estoirarem de zunidos e explosões. Não sei se saio daqui viva, oiço a voz na minha cabeça, vai correr tudo bem, já estiveste em zonas de guerra como esta e estás aí viva, estás aí inteira, todos os orgãos todos os membros, inteira menos nas cicatrizes que te rasgaram por dentro, temos pena.
E de repente, exausta da espera no meio dos tiros, farta do pó e das explosões, meia enlouquecida pelo cheiro a sangue e pelas moscas que rodeiam os corpos desfeitos à minha volta quero levantar-me, senhores estou aqui, atirem directamente ao coração, embora não possa garantir que me atinjam assim, ainda que o meu peito rebente, há muito que ele se ficou ao longo do caminho, o mais provável é a bala atravessar sem que eu sequer a sinta, sem causar uma única gota de sangue. É por aí sim, atirar ao coração.

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One response to “É tudo tão complicado”
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Abóbora Menina disse...

clap clap clap clap clap clap clap clap! E clap!

29 de junho de 2009 às 15:03

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