O alcance do mau

10.8.09

Mau não é cair, tropeçar, voltar ao chão. Sei que me levanto e nem tenho nódoas negras desta vez. Apenas uma cabeça de abóbora que só olha para o cimo e não vê a falta de degraus. Pé em falso, portanto - ía jurar que não faltava degrau nenhum, mas de que serve isso agora?
Mau é que estas recolhas de escadote, estes recuos nas subidas me empurrem para ti. Refugio-me no "tu é que eras". E eras. Ninguém é insubstituível, bem sei. Ou tenho de o pensar que outro remédio não tenho. Mas eras tu. As saudades que eu tenho de uns olhos a brilhar, de umas mãos grandes, do teu tamanho todo e tudo o resto muito básico e físico que me fazia corar de excitação ao ver-te chegar.
Mau mesmo, é que o mundo se torne apenas um jogo e só existamos nós dois: ou sozinha ou a viver para ti, por ti, em ti, sem ti. E tudo o resto, paisagem, peões, figurantes, que nisto do amor à séria, aquele que eu queria mesmo, só existes tu.
Pior é saber que não estás, não vais estar aqui. Sonhar contigo, a dormir ou acordada e tu nunca aqui. Nem números, nem contactos nenhuns. E eu a cada tropeção - que sem pensar, vou refazendo cada pedacinho despedaçado, interesso-me por um ou outro a espaços - volto a ti. Com mais força, mais convicção: eras tu e mais ninguém. Aninho-me em ti como antes e fico assim. Eu sinto-te. Como se fosse hoje. Mas tu nunca estás.

Comments

3 Responses to “O alcance do mau”
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Anónimo disse...
pzs disse...

"... Sorverei um a um, e de cada um destilarei uma singela gotinha de amor, que irei depositar nos lábios que, talvez em tantos amanhãs, num qualquer improvável minuto, de novo encontrarei."



http://maisduaspraestrada.blogspot.com/2009/08/uma-cadeira-com-vista-para-o-vento_20.html



ps: é o que me passou enquanto passei, improvável mas real.

2 de outubro de 2009 às 02:09
Abóbora Menina disse...

Esse comentário ser a 20/09 tem a sua ironia, cá por coisas ;)

E foi bem passado, Doe.

30 de dezembro de 2009 às 14:10

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