O alcance do desespero

31.8.09

andamos todos desesperados, é o que é.

Ele tinha-me respondido assim quando lhe perguntei quanto tempo mediara entre o primeiro contacto, via net, e o primeiro encontro. Um fim de semana tinha bastado, um dia para trocarem números de telemóvel, outro para smses.
Tinha dito aquilo consciente do que dissera, desesperados. Os que não conseguem esperar.

Não consigo assegurar que antes [há muitos anos] o desespero fosse diferente, ou melhor, mas imagino sempre que antes de existirem telemóveis, emails, auto estradas, o ritmo da vida fosse diferente e as pessoas aprendessem a esperar desde que nasciam. Toda a vida seria uma sucessão de esperas, que a vaca desse leite e a galinha ovos, que chegasse uma carta ou um telegrama, que alguém voltasse da guerra, que o barco atravessasse o oceano.
Assim era que, no meio de outros ritmos e outras vidas, muito haveria a perder, pois a vida continuava algures enquanto alguém esperava - o nosso amor casava-se e tinha filhos com outro, os nossos filhos cresciam sem os vermos, alguém de quem gostávamos muito morria e não descobríamos até muito mais tarde.

Haveria também, acho, muito a ganhar. No cinema, por exemplo, se a personagem da Ingrid Bergman no Casablanca se fosse despedir ao aeroporto neste momento, diria ao Ricky algo como "Meet me in facebook", e nós não teríamos o "We'll always have Paris" para nos lembrar que perfeitos-perfeitos só os amores impossíveis.

Comments

2 Responses to “O alcance do desespero”
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E eu, aquele que, se fosse uma marca, havia de ter como assinatura "Quero tudo, já!", dou por mim a pensar nas delícias da espera, de escrever cartas que haviam de demorar três dias a chegar ao destino, de ter que parar nas estações de serviço para telefonar, de demorar antes de decidir beijar uma mulher pela primeira vez, de adivinhar-lhe o toque, de imaginar a que saberiam os lábios dela.

(e hoje a Ilsa não lhe diria "meet me in facebook", havia de lhe dizer "Depois ligo-lhe")

1 de setembro de 2009 às 11:54
Mercedes disse...

hum...mas nessa altura já havia telefones...pior mesmo era descobrir o número.

1 de setembro de 2009 às 11:57

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